Tenho que vos falar deste modelo. Mais do que um conceito é uma filosofia de vida. Uma escolha.
No fim de semana passado dei início à Pós Graduação em Parentalidade Positiva com a fundadora Magda Gomes Dias (aconselho-vos vivamente a segui-la aqui) da Escola de Parentalidade Positiva.
Quando decidi inscrever-me nesta Pós Graduação, foi com o objectivo principal de aprender novas ferramentas para me ajudar em contexto profissional com os pais de crianças que acompanho. Verifico cada vez mais, que os pais estão cansados e desistem pura e simplesmente de investir na relação parental. Vivem o seu dia a dia, na esperança que o amanhã seja melhor que o de hoje e não conseguem desbloquear hábitos e formas de estar que acabam por se tornar nocivas para todos, ao nível emocional e relacional.
Mas logo no primeiro dia de formação, percebi que para além das ferramentas de trabalho que levaria dali, estava ali como mãe que também sou. E percebi nesse fim de semana que o nosso “problema” enquanto pais é estarmos presos a estilos de educação parentais que acreditamos ser os correctos, pois foi com esses que crescemos, que nos educaram e que nos fizeram acreditar que era o caminho correto. Só que não.
Agora que somos pais, percebemos na prática que muita coisa não funciona, não faz sentido e sentimo-nos desiludidos, frustrados, pois achávamos que educar uma criança não era mais que um jogo de poder parental com direito a gritos, palmadas e castigos. Só que não.
A parentalidade positiva, especificamente, o modelo Magda Gomes Dias, é a mudança de paradigma. É o romper com uma forma de estar parental que vem de geração em geração e que se acreditava ser o correto, pois não havia outro modelo diferente. Ora temos o estilo parental autoritário ou no outro lado, o estilo parental permissivo, em que ambos não trazem benefícios para o desenvolvimento emocional da criança, nem para nós enquanto adultos e pais.
Este novo modelo, para mim, é como uma psicoterapia que fazemos a nós mesmos. É mudar o foco. É deixar de ver o filho numa hierarquia de poderes. É descentralizarmos esse poder paternal autoritário, que nos frustra e põe infelizes todos os dias, na batalha de quem ganha o jogo de poder entre birras, berros e ameaças. É descentralizarmos a permissividade, que tanta insegurança traz à criança e criar limites e regras com sentido.
Seguir o modelo da parentalidade positiva é o desconstruir toda a educação que tivemos (a maioria). É perdoar os nossos pais, pois não tinham outro exemplo. É acreditar que somos seres bons, na qual nos respeitamos de igual para igual e que estamos neste mundo com uma missão: educar com e pelo o amor. É sentir as frustrações e aceitá-las como minhas. É comunicar essas frustrações com amor.
Porque eu descobri que, na educação parental (como em tudo na vida), eu posso escolher. E eu escolho ser uma adulta capaz de viver num mundo de emoções positivas, de ser respeitada e respeitar o próximo. Eu escolho largar o que não importa e ser a adulta segura e confiante que a minha filha espera que eu o seja. Eu escolho abraçar o que é importante.
Para mim tornou-se claro o que é importante na minha vida pessoal: cuidar de mim para saber cuidar da minha filha. Criar vínculo afetivo com os meus. Amar e ser amada. Estar presente. Escutar as minhas necessidades e as da minha filha. Tocar e sentir. Criar vínculo.
A gratidão é uma prática que se faz à alma. Como tal, agradeço ao mundo por ter-me dado a oportunidade de ter conhecido este modelo de educação parental. Agradeço por mim e pela minha filha, pois ela levará para os seus filhos uma nova filosofia de vida parental.
Vera Oliveira