Psicologia, psicopedagogia

” As Crianças Adaptam-se”

Nas últimas semanas foi criado um movimento #assimnãoéescola, que circula pelas redes sociais, face às diretrizes elaboradas pela DGS, na qual constam procedimentos que vão de encontro aos comportamentos a adotar de forma a minimizar o risco de se ficar infetado com o SARS-CoV-2, neste regresso às escolas.

Alguns dos exemplos que mais me chocam nessas medidas, são a redução dos intervalos, a circulação e socialização afastada entre alunos, os familiares não puderem entrar na escola e uso obrigatório de máscaras sempre colocadas, por parte dos educadores e professores.

Se há coisa que é importante para a aprendizagem é a criança sentir-se conectada. A Educadora que conta uma história na hora do conto,  em que exprime com toda a sua experiência as emoções das personagens da história, com uma máscara na boca, perder-se-á alguma magia, certamente. Já para não falar do professor do 1º ano, em que tantos alunos contentes por finalmente irem aprender a ler,  tenta explicar que o som da palavra casa é diferente do som da palavra caça, com uma máscara na boca. Ensinar sons das letras. Brincar com os sons que saem pela boca. Ler de máscara para crianças que estão a aprender a ler. Como fazemos/vemos isso, com a máscara na boca? Continue reading “” As Crianças Adaptam-se””

Maternidade, parentalidade

Parentaliquê??

img_20200328_135104

Há mais de um ano que não escrevia aqui pelo blog.

Para quem me lê pela primeira vez, vou contar um pouco da minha história. Sou psicopedagoga e sempre trabalhei com crianças e adolescentes com dificuldades de aprendizagem. Tendo nos últimos anos, dedicado mais ao trabalho com adultos: pais e professores.

Nunca ambicionei ser mãe. Em jovem não tinha discursos de “um dia quando for mãe” e em adulta, sempre gostei da independência e liberdade que tinha, quando o trabalho acabava. Entretanto, aos 28 anos encontro a minha cara-metade, o meu equilíbrio, a minha fonte de inspiração e aos meus 36 anos tornamo-nos pais de uma linda Maria Henrique aka Maria Furacão.  Continue reading “Parentaliquê??”

psicopedagogia

Formas de ensinar o alfabeto através do princípio da inclusão – EKUI

Quando trabalhamos com crianças que têm dificuldades no acesso à aprendizagem da leitura, percebemos (e os estudos assim comprovam) que estas crianças têm que ter uma aprendizagem multi sensorial. Isto porque, para ler estão implicadas duas funções cognitivas muito importantes como a descodificação e a compreensão associados a processamentos visuais e auditivos (já para não falar dos aspectos psicomotores). Quando surgem dificuldades específicas de aprendizagem da leitura, digamos que estas crianças apresentam um funcionamento cerebral diferente. Não está lesado, não há défice cognitivo, mas funciona de forma diferente por haver ligeiros défices nas áreas supracitadas que resultam em pequenas disfunções cerebrais.

Como devem calcular, isto tem implicações muito grandes quando a criança inicia o seu processo de aprendizagem da leitura, pois a escrita está directamente ligada e como uma bola de neve, começam a surgir dificuldades específicas nas diferentes disciplinas que a criança começa por ter: o português, a matemática e o estudo do meio.

Mas o início tem de ocorrer. E o que é o início?

Continue reading “Formas de ensinar o alfabeto através do princípio da inclusão – EKUI”

psicopedagogia

Como motivar a criança que tem dificuldades na leitura

Imaginem este cenário nas vossas vidas de adultos:

Imaginem que têm de ir todos os dias para o vosso trabalho. Imaginem que todos os dias, têm de fazer tarefas que não conseguem executá-las bem. O patrão explicou-vos como executar as tarefas e vocês simplesmente, não conseguem. O patrão repete como se faz e vocês continuam a não fazer bem. Vocês começam a ficar frustrados, aborrecidos. O patrão começa acusar-vos de falta de empenho e dedicação. Começam a ser comparados ao colega que executa na perfeição as tarefas que o patrão mandou fazer. Vocês começam a ficar para além de frustrados, tristes e com sentimentos de inutilidade, com sentimentos de “eu não sou bom, eu não presto”. Começam a duvidar das vossas capacidades, pois os dias, semanas, meses, passam e vocês continuam a não conseguir executar as tarefas como os restantes colegas de trabalho. Mas vocês, não podem mudar de emprego! São obrigados a continuar a trabalhar nessa área. E depois ainda levam para casa as tarefas que não terminaram no trabalho, ou levam para casa tarefas para “treinar” até conseguirem fazer bem. Vocês chegam a casa e a frustração prolonga-se. Começam a ficar irritados com todos lá em casa, começam a ter comportamentos que nunca antes tiveram, simplesmente porque não estão a conseguir lidar com tamanha frustração, stress e ansiedade que o trabalho está a fazer-vos sentir.  Apetece gritar, chorar, dizer que não querem ir para o trabalho, quando acordam de manhã. De repente, começam adoecer, a perder o apetite ou a comer compulsivamente, começam a ter problemas em dormir, começam a ter dúvidas existenciais profundas acerca daquilo que vocês são. Começam a deprimir. Começam a pensar “porque não consigo fazer o raio das tarefas bem?” E há dias que chegam ao trabalho com toda a força do mundo a pensar “hoje vou conseguir” e no fim do dia, o patrão chega ao vosso lado e diz ” ok. mas ainda não está como é suposto”. E vão para a casa com a sensação de vazio, de incompreensão, de dor no coração por saberem que estão a dar o máximo que conseguem, mas ninguém vê. Aí vocês simplesmente desistem. Vão para o trabalho e simplesmente não fazem o que o patrão vos pediu. Não querem. Estão cansados. Respondem torto e chegam a ser mal educados. São castigados. Como castigo, vocês têm de ficar na vossa sala de trabalho, sem puderem ir arejar a cabeça nos intervalos da manhã e da tarde. Nesse dia vão para casa a pensar “Odeio o trabalho, o patrão e os colegas que lá estão. Odeio. Odeio.” Continue reading “Como motivar a criança que tem dificuldades na leitura”

psicopedagogia

Sugestões para pais, cujos filhos regressam à escola

A uns dias das aulas começarem, regressa um número de rotinas associadas à escola. E antes que a escola comece, uma das rotinas que acontece é comprar os livros e material escolar. Verificar o que está bom do ano anterior, o que é negociável comprar este ano, o que é necessário comprar, plastificar os livros, identificar tudo com o nome e aguardar pela lista de material escolar que a professora envia, quando as aulas começam.

Fazer estas coisas em conjunto com os filhos é muito bom. Para além de ensiná-los a organizar e a cuidar do seu material, envolve-os neste processo de arranque escolar. Uma das coisas que sempre gostei de fazer era, abrir os livros novos e ver que matérias eu iria aprender. E isso, é uma excelente ideia para vocês fazerem com eles! Estimular a curiosidade do que se avizinha, ver reacções do género “wooow, já viste mãe/pai! Este ano vou aprender isto!!!”, e vocês pais terem reacções do género “ahhhh, olha que giro, este ano, vocês vão aprender este tema x! Eu adorei aprender quando tinha a tua idade!”

Com isto tão simples e natural, estão a ensinar o quão é bom andar na escola, o quão é importante sabermos coisas novas, para podermos falar sobre elas, o quão é bom partilharmos experiências, o quão é bom, colocarmos em prática aquilo que aprendemos. Com isto estão a dar significado ao propósito base do que é “andar” na escola. Que vai muito para lá de tirar boas notas.  Continue reading “Sugestões para pais, cujos filhos regressam à escola”

psicopedagogia

#4 Livros que todos os pais devem comprar

Há uns tempos, li na capa de uma revista para pais, o seguinte título “Como acabar com os conflitos”.

Fiquei então a pensar, o quanto deve ser desesperante para os pais, lerem estes títulos e considerarem a hipótese de que é possível viver sem conflito. Simplesmente não é! O conflito não só é necessário, como está intrínseco nos nossos genes, como instinto de sobrevivência e de desenvolvimento pessoal e em grupo.

Então este título que li, poderia intitular-se, por exemplo, desta forma, “Como resolver conflitos”. Mais real. E que vai de encontro às verdadeiras necessidades de cada um de nós. Podemos evitar o conflito (quero crer, que ninguém gosta de conflito, estando no seu perfeito juízo), mas o que nós verdadeiramente gostaríamos, era ter a capacidade para resolver os conflitos que surgem na nossa vida, da melhor forma possível, de forma a que ambas as partes fiquem bem. E isso poderá, de facto, não ser uma tarefa fácil.

Este livro que vos trago hoje, “Pára de chatear a tua irmã e deixa o teu irmão em paz” da autora Magda Gomes Dias, fundadora da Escola de Parentalidade e Educação Positivas ( link directo aqui, caso tenham curiosidade em saber mais sobre o trabalho que ela faz), fala sobre isso. De conflitos. Mas mais do que falar em conflitos dentro duma rede familiar entre pais e filhos e entre irmãos, fala sobre o amor que existe dentro dessa rede e na forma como partilhamos esse amor aos nossos filhos.  Continue reading “#4 Livros que todos os pais devem comprar”

psicopedagogia

Aos Pais e Professores de Crianças com Dificuldades de Aprendizagem

Quando iniciei o meu trabalho como psicopedagoga (decorria então o ano de 2005), tinha uma missão dentro de mim: ajudar todas as crianças com dificuldades de aprendizagem que chegassem até mim. Tinha saído da faculdade em 2004 e muito certa que era com e na criança, que toda a minha energia devia ser despendida, até que a mesma melhorasse.

Com a prática, verifiquei o quão sofrida e desamparada era a criança que chegava até mim. Conseguia ler só pelos olhos dos miúdos, a angústia que traziam e a incompreensão de ninguém os entender. Crianças que me chegavam com rótulos de pais e professores de preguiçosos, falta de estudo, falta de regras, incompetentes, desatentos, imaturos, infantis.

E com cada criança, interiorizava que a iria salvar. “Tu vais melhorar, confia em mim”, dizia eu. E batalhava com ela as dificuldades que travava com as letras e os números. E as conquistas iam acontecendo, os avanços iam-se fazendo e a esperança ganhava uma nova forma: “Afinal, eu sou capaz”.

Mas nem todas as crianças tinham o mesmo avanço, nem todas as crianças tinham o mesmo carácter, nem todas as crianças tinham a mesma rede de suporte, nem todas as crianças tinham a mesma motivação. E comecei a perceber, que eu estava demasiado focada na criança.

Estava focada em melhorar a criança. Estava focada no problema neuro biológico. Estava focada nas questões emocionais da criança. E era NA criança que eu me debruçava.

Percebi então, que a criança dependia, para além da minha ajuda, da aceitação. Da aceitação na escola e em casa. Da aceitação da criança que era: uma criança com dificuldades para ler, uma criança sensível ao que lhe diziam, uma criança que queria brincar em vez de fazer os trabalhos de casa, uma criança que não gostava da escola, uma criança que precisava de ser ouvida.

E foi aí que a luz me chegou. Independentemente do apoio psicopedagógico que a criança teria comigo, era crucial trabalhar com os pais e com o professor. Desmistificar, acalmar, dar estratégias e acima de tudo, escutar.

Escutar uns pais cheios de culpas, cheios de medos, cheios de crenças, cheios de expectativas que não correspondiam ao filho que tinham à frente.

Escutar um professor cheio de crenças, cheio de expectativas, cheio de defesas em que tinha dificuldade em apoiar, numa sala cheia de alunos, crianças com dificuldades específicas de aprendizagem.

E então comecei o meu caminho. E o meu caminho com cada criança, passava por amparar, escutar, abraçar, apoiar cada pai e professor de cada criança que eu acompanhava.

Enquanto escrevo isto, apetece-me chorar. Chorar pelo que de bom acontecia aos pais e à criança, quando aceitavam o filho que tinham. Quando desconstruíam mitos e crenças. Quando ajustavam as suas expectativas. Quando se sentiam informados.

A motivação na criança é uma coisa fantástica. Está directamente relacionada com o quanto os educadores à volta dela, acreditam nela. Está directamente relacionada com a aceitação que os adultos à volta dela, fazem. Está directamente relacionada com o vínculo emocional que os adultos à volta dela, estabelecem com ela.

Não é matemática. É amor. A conjugação de todos os factores que levam uma criança a melhorar na escola, é o amor. O amor que cada adulto deposita nela e confia.  E milagres acontecem. Porque fomos nós adultos que mudamos e aceitamos, primeiro.

Eu tinha medo de ser mãe. Não, pelo facto de não ser capaz. Mas por perceber que o peso das crenças e mitos, da falta de informação, perante uma adversidade (num contexto de aprendizagem escolar), me iria dar luta. E tinha medo de falhar, claro!

Mas de onde vinham estes meu medos? De onde vinham estas minhas crenças, inseguranças, do que era suposta ou não, ser enquanto mãe? Complicado, não é? Esta necessidade de provar, que estava enraizado no meu inconsciente. Muito provavelmente por trabalhar na área da psicopedagogia e não poder falhar. Por ter medo de não ser a perfeição. Por ter medo de levar com a dúvida e ambivalência que é a parentalidade.

Que tola.

Ser mãe foi o que de melhor me aconteceu na vida. E sabem porquê? Porque me fez procurar saber o que é isto de educar um filho, fez-me questionar as MINHAS crenças, as MINHAS expectativas. Fez-me questionar que tipo de mãe eu queria ser. E está a ser extraordinário, este processo de desconstrução e reconstrução pessoal.

A parentalidade é dos temas (senão O tema) que mais controversa traz entre as pessoas, porque traz o que temos de mais profundo: as nossas convicções, crenças, tipo de educação que tivemos, provações, medos, expectativas, mas acima de tudo, porque é pelos pais que somos, que ajudamos a construir o futuro de amanhã.

Sejam bons convosco. Baixem as armas. Respirem. Informem-se. Aceitem. E sigam o vosso caminho de forma informada e consciente.

 

Vera Oliveira

 

psicopedagogia

#3 Livros que todos os pais devem comprar

E cá estamos nós para falar de mais um livro que todos os pais devem ler.

Bem, se estão interessados em conhecer como o cérebro do vosso filho funciona em função das etapas de desenvolvimento em que se encontra, então vão já correr e comprar este livro.

Birras que não conseguem controlar, acessos de raiva inexplicáveis, comportamentos que não entendem o porquê,… Neste livro tudo é falado com base na neurociência e na prática da parentalidade consciente. Continue reading “#3 Livros que todos os pais devem comprar”

Lifestyle, Maternidade

E quando precisamos de fazer um DVL ?(um desliga e volta a ligar a nós mesmos)

Quando criei este blog, o principal objectivo era de expor aqui temas relacionados com a aprendizagem das crianças e adolescentes. Um blog destinado essencialmente a pais e também professores, com uma visão clarificadora das preocupações dos mesmos face aos seus filhos e à escola. Sou psicopedagoga e como tal, é isso que sei fazer ao longo dos quase 14 anos de experiência profissional.

No entanto, desde que fui mãe, temas como a maternidade e a parentalidade, suscitaram em mim um grande interesse, na qual nos últimos dois anos tenho dedicado muito do meu estudo e formação a estes temas.  Continue reading “E quando precisamos de fazer um DVL ?(um desliga e volta a ligar a nós mesmos)”

psicopedagogia

#2 Livros que todos os Pais devem comprar

Sofie Münster, autora deste livro que vos trago hoje, é diretora da maior revista digital sobre parentalidade na Dinamarca – a NOPA – Nordic Parenting. Pena, não perceber uma única palavra. Mas com tradução, deu para perceber os temas interessantes que por lá se escrevem na página do facebook.

Penso que o sub título deste livro “o método dinamarquês para educar crianças felizes e bem sucedidas”, apenas é para alimentar a moda que anda por aí sobre todo um estilo de vida nórdico (que eu tanto aprecio, por acaso). Para quem anda nesta mudança de paradigma da educação e parentalidade positivas, conhecerá os termos que aqui a autora fala sobre como educar as crianças hoje em dia.

Continue reading “#2 Livros que todos os Pais devem comprar”